Sarah Barr
Clima extremo; ciclones, incêndios florestais, ondas de calor. Essas são algumas das piores catástrofes que a sociedade enfrenta. Elas remodelam fundamentalmente a vida e as paisagens das pessoas. A ciência do clima mostra que esses eventos estão se tornando mais frequentes e extremos devido ao rápido aquecimento global.
Nossa pesquisa recente explorou como, além de causar o caos nas comunidades, o clima extremo é um campo de batalha na guerra de informações sobre as mudanças climáticas. Analisamos a desinformação que se espalhou em torno de três eventos climáticos extremos na América Latina.
Isso incluiu as enchentes no Rio Grande do Sul, Brasil, em setembro de 2023, onde políticos de direita propagaram rumores de que a devastação foi causada por uma barragem rompida. Também analisamos os catastróficos incêndios florestais que devastaram o Chile em fevereiro de 2023. Apresentados pelos negacionistas do clima como um problema de crime causado por incendiários, eles não mencionaram a seca que durou uma década, as práticas florestais ruins e o calor extremo que resultou em condições de fogo. Nosso último estudo de caso se concentra no ciclone Yaku, no Peru, em março de 2023, em que os teóricos da conspiração afirmaram que a tempestade havia sido “geoengenheirada” para ocorrer, culpando o HAARP, um laboratório de pesquisa científica, por desencadear a tempestade. Todos esses casos obscureceram as causas relacionadas ao clima de condições meteorológicas extremas. Desviando o foco da atenção do público distraído da necessidade real de melhorar a preparação, a mitigação e a resposta a eventos cada vez mais comuns e graves. Essa atribuição errônea da causa das crises é uma ferramenta essencial do “manual” dos negacionistas do clima e agora está sendo usada contra casos de clima extremo. Em todos os estudos de caso, as narrativas construídas pela desinformação não eram singulares, mas atuavam de modo a ampliar o discurso existente. Por exemplo, a discussão sobre o rompimento da barragem no Brasil ocorreu entre as alas direita e esquerda, bem versadas em minar publicamente uma à outra por muitos anos antes da inundação. Da mesma forma, vemos narrativas de incêndios criminosos construídas em torno de incêndios florestais identificados repetidamente na Grécia, na Espanha, nos EUA e no Canadá, entre outros.
Ao mesmo tempo, a natureza específica dos eventos climáticos extremos os torna especialmente vulneráveis à desinformação. Esses aspectos incluem:
Nossas investigações revelam a impressionante previsibilidade das tendências de desinformação. O contexto mais amplo que envolve essas narrativas demonstrou consistentemente que a base de cada uma delas existia antes dos eventos climáticos que as desencadearam.
É provável que os eventos climáticos extremos aumentem em frequência e gravidade, e a probabilidade de que se tornem cada vez mais politizados e armados é alta (IPCC, 2023). No entanto, embora os eventos climáticos extremos estejam se tornando cada vez mais frequentes, eles também estão se tornando mais fáceis de prever. Nossa análise mostra que a pesquisa contextual fornece uma indicação clara dos tipos de narrativas de desinformação que provavelmente ocorrerão em relação a um evento climático específico em um local específico. A combinação de fatores mostra que os elementos fundamentais necessários para se antecipar à desinformação sobre condições meteorológicas extremas já estão presentes, o que nos dá uma boa esperança na luta contra a desinformação relacionada ao clima. Leia o relatório completo em inglês aqui e em espanhol aqui.