O manguezal é um dos ecossistemas mais produtivos do mundo. É o berçário da vida marinha e tem grande importância para a manutenção de bens e serviços – por exemplo, a pesca artesanal, o extrativismo, a coleta de mariscos, a cultura e o turismo de base comunitária.
O mangue é um importante sequestrador e estocador de carbono e contribui para a redução da vulnerabilidade de zonas costeiras às mudanças climáticas. Porém, esse ecossistema está vulnerável a uma série de ameaças, como desmatamento, poluição, exploração predatória de recursos e ocupação desordenada. Além disso, ainda existem muitas barreiras físicas e imaginárias para se falar sobre mangue com quem não vive próximo a ele.
Para mudar a percepção que se tem sobre o mangue e construir uma visão positiva e de orgulho nacional sobre o ecossistema, a Purpose em parceria com a Rare Brasil, Confrem e a Associação dos Usuários das Reservas Extrativistas Marinhas e Costeiras do Pará (AUREMs), desenvolveu a campanha Mães do Mangue, que visa inspirar e engajar novas pessoas na defesa e conservação dos manguezais brasileiros.
Mães do Mangue é uma rede de mulheres extrativistas que têm nos manguezais suas raízes e fazem das margens do rio um epicentro de criação, cuidado e vida para as gerações futuras.
Oportunidade
A partir de pesquisas encomendadas pela Purpose (BLS Research & Consulting, 2019) e partindo da premissa de que transformar a vida de uma mulher transforma toda uma comunidade, identificamos a oportunidade de desenvolver uma campanha sobre manguezais e suas comunidades a partir do recorte de gênero.
Nesse sentido, nosso foco de atuação foi o Pará, por ser o estado que concentra a maior população pesqueira feminina do país e no qual a Rare Brasil, Confrem e as AUREMs já possuem uma atuação comunitária histórica.
Além disso, em conversa com mulheres extrativistas de reservas costeiras paraenses, também identificamos uma necessidade basilar de promover maior conexão e união entre mulheres das diferentes Reservas Extrativistas (RESEX) do Pará.
Teoria de Mudança
Ao mobilizarmos mulheres que vivem de atividades extrativistas dos manguezais do Pará a contarem suas histórias de vida e compartilharem saberes de conservação desse ecossistema, nós poderemos fortalecer o campo de lideranças extrativistas femininas na região e ajudar a mudar a percepção sobre os manguezais e suas comunidades para uma visão positiva, de orgulho nacional, de modo a inspirar atitudes de proteção desse ecossistema e do bioma Amazônico.
O conceito da identidade visual da campanha é apresentar a importância do mangue através das histórias das moradoras da Resex, reforçando as raízes ancestrais das famílias que habitam o território, os laços culturais, identitários, a fauna, a flora e outras características que representam o ecossistema.
Mães do Mangue é uma campanha que traz como fio condutor as histórias de vida das mulheres que vivem das atividades extrativistas dos manguezais paraenses.
A campanha se propõe a engajar comunidades na proteção desse ecossistema, a partir do protagonismo das mulheres das RESEX do Pará – guardiãs que têm atuação fundamental no enfrentamento da emergência climática e na busca de soluções sustentáveis para a sobrevivência desses territórios.
Mães do Mangue, junto com essas guardiãs, evidencia a importância dos manguezais como verdadeiros berçários da vida, para a proteção de espécies, do solo e manutenção dos rios e mares, mostrando um universo positivo que carrega orgulho, ancestralidade e pertencimento.
Durante a campanha, que foi de julho a setembro de 2021, desenvolvemos quatro mini-documentários que contam as histórias e vivências das mulheres que moram e atuam em reservas extrativistas, mostrando o seu protagonismo na proteção desse ecossistema.
O primeiro vídeo foi lançado no dia 26/07, Dia Mundial de Proteção aos Manguezais.
Além disso, abrimos um site para centralizar as informações da campanha, produzimos conteúdo para as redes sociais para serem divulgados pelos realizadores, parceiros e apoiadores da campanha, e também distribuímos kits do Paneiro do Mangal, com produtos da sociobiodiversidade produzidos por essas mulheres, para 13 influencers locais do Pará.
Pensando em uma divulgação além das redes sociais, produzimos releases e pautamos entrevistas, para a publicação de reportagens em veículos de mídia local.
E, como um dos produtos finais, publicamos o livro e e-book Cozinha da Maré, que tem como foco valorizar a cultura alimentar dos mangues. O livro reúne um compilado de receitas das 12 Reservas Extrativistas do Pará. Imprimimos 100 cópias do livro, que foram distribuídas para as RESEX, parceiros e influencers da gastronomia.
Para a divulgação do livro e encerramento da campanha, foram realizados eventos locais nas 12 Reservas Extrativistas paraenses, na semana do Dia da Amazônia (05/09). Nos eventos, as mulheres das comunidades locais puderam se conectar a partir de rodas de conversas e da exibição dos mini-documentários.
Além da parceria da Rare Brasil, Confrem e das Associações dos Usuários das Reservas Extrativistas Marinhas e Costeiras do Pará, também contamos com o apoio institucional e de divulgação das organizações: Ame o Tucunduba, Climainfo, Conservação Internacional, Instituto Peabiru, Instituto Manguezal, Instituto Nova Amazônia, Liga das Mulheres pelo Oceano, Oceana, Toró – Gastronomia Sustentável, e com a participação do Paneiro do Mangal e do Iacitatá – Amazônia Viva.
A campanha teve mais de 50 hits na imprensa local, tanto em veículos eletrônicos quanto impressos. Ela foi divulgada em canais como SBT Pará, Canal Globo, Programa Conexão Úrsula Vidal e também em meios impressos como O Liberal e Diário do Pará.
“Nos alegramos em poder compartilhar o nosso dom neste livro, sabendo que ele poderá viajar para tantos lugares. Isso representa para todas nós, mulheres extrativistas, a valorização do nosso trabalho, muitas vezes, invisibilizado. Além disso, é uma motivação para fortalecermos, cada vez mais, uma rede de divulgação da culinária da maré.” – Sandra Gonçalves, RESEX Mãe Grande de Curuçá
Atuação nas 12 RESEX
O livro de receitas e os eventos locais conseguiriam conectar mulheres de TODAS as 12 RESEX costeiras do Pará. Esse é um resultado histórico de mobilização de lideranças locais na região, que abre muitas portas para conexões futuras.
Acesso à imprensa local
A campanha teve ótima entrada na imprensa do Pará. Foram exibidas na TV reportagens de longa duração (3 a 5 min). No total, a campanha teve 55 hits na imprensa local, incluindo veículos online, televisão e rádio. A filial da Band em Bragança exibiu os mini docs em inserções durante a programação normal. Lideranças extrativistas foram entrevistadas e continuam sendo acessadas para falar sobre outras pautas, mesmo após a campanha.
Fortalecimento da conexão
Os eventos foram grandes energizadores das comunidades. A campanha criou oportunidades para as mulheres se integrarem, se conhecerem e se enxergarem nas vivências compartilhadas. Alguns dos grupos de mulheres não se encontravam há mais de 5 anos, e muitas não se conheciam. Os grupos já planejam se encontrar de novo. Além disso, a campanha mobilizou 26 organizações, incluindo as 12 Associações de Usuários das RESEX.
Valorização do trabalho
Após a coleta de receitas do livro, algumas mulheres, como a Dadá da RESEX Cuinarana, passaram a vender seus preparos culinários em cidades próximas. Durante os eventos, as mulheres se reuniram para pescar, preparar e vender comidas juntas. Da campanha, saíram fortalecidas as cadeias produtivas protagonizadas por mulheres, como a do sarnambi.
Prefeituras e Secretarias
Com os eventos, foram criadas novas pontes com o poder público. Na RESEX Cuinarana, a prefeitura cedeu o 1º espaço no Pará para o encontro de mulheres extrativistas dos manguezais. Vereadores e prefeitos participaram de alguns dos encontros. E prefeituras e secretarias têm se mostrado interessadas em apoiar novos projetos.
Inovação local
Cada um dos eventos locais teve um formato próprio, organizado pelos grupos de mulheres das RESEX, levando a uma variedade de resultados: desde Soure escrevendo pela 1ª vez uma carta de demandas das mulheres extrativistas, a festivais de pesca em Mocapajuba, à criação de uma nova iguaria – a coxinha de turu, em Curuçá.
No final da campanha, pela 1ª vez, mulheres de 11 das 12 RESEX marinhas estiveram juntas em um final de semana imersivo em outubro, para pensar frentes de ação conjunta. No encontro, foi formada a Rede de Mulheres do Litoral do Pará, um resultado histórico para o campo.
Declarações:
“Quanto mais pessoas, mais ideias. Quanto mais ideias, mais mudanças, mais coragem. Afinal, a gente depende umas das outras.” – Fala de uma moradora de Caratateua, durante evento local, Bragança, Pará
“Eu acho que a gente está contribuindo com uma revolução. Essa campanha
é um marco na costa norte.” – Bruna Martins da Rare Brasil, Pará
Um guia digital de combate à desinformação.